A 5ª Edição do Dia Anec RS foi diferente de todas as outras. Dessa vez as Escolas Católicas da Região Nordeste do Rio Grande do Sul e de diferentes cidades do Estado, como Pelotas, Porto Alegre, Canoas, Santa Maria, estiveram reunidas virtualmente para ouvir mais sobre o tema: Incidências e Desafio do Pacto Educativo Global no Rio Grande do Sul.

Cerca de 750 professores, gestores e colaboradores das instituições católicas de ensino foram acolhidos pela programação que contou com a participação da Irmã Sônia e da professora Patrícia de Azevedo, do Colégio Espírito Santo, de Canoas, que trouxeram um momento de espiritualidade e de oração coletiva no início da atividade. As palavras esclarecedoras e afáveis do orador da noite, Dom Leomar Antônio Brustolin, completaram o Dia Anec RS.

 

Para abrir a sua explanação, o orador, que também é educador, situou os ouvintes sobre o significado e o objetivo do Pacto Educativo Global, lançado pelo Papa Francisco, em outubro de 2020 lançou, por meio de um evento online, em Roma, na Itália.

Conforme Dom Leomar, trata-se de uma aliança educativa, na qual diferentes instituições se unirão por uma causa comum. “O projeto visa renovar a paixão pela educação, uma educação mais aberta, inclusiva, capaz de uma escuta paciente, de um diálogo construtivo e de mútua compreensão. O Pacto não vai determinar como cada escola irá planejar o seu caminho, mas vai sugerir, orientar e questionar as instituições de ensino que seguirem outras diretrizes que não tenham, por exemplo, a pessoa no centro do processo educativo”, ponderou Brutolin.



 

“Diz o Papa, que tudo o que fizermos não terá os frutos que queremos se não pensarmos em um novo modelo de ser humano”, relacionou ele, citando, ainda, o Papa Bento XVI, que em 2008 já falava em ‘emergia educativa’. “ Como formar pessoas mais consistentes, capazes de colaborar com os outros e dar um sentido à própria vida. Nós somos desafiados a nos educarmos e a educar nesse sentido”, lembrou Dom Leomar.


Principais pontos do Pacto Educativo Mundial

Para conseguirmos cumprir com o objetivo do Pacto Educativo Global é necessário, como sugere o Papa Francisco, colocarmos a pessoa no centro, não o mercado, os interesses. “Para o Pontífice, a economia também precisa um novo propósito e a Educação não pode ser refém do mercado. Precisamos investir as melhores energias com criatividade e responsabilidade, além de formar pessoas disponíveis para se colocar a serviço da comunidade”, pontou Dom Leomar, lembrando das dificuldades de se colocar isso em prática no contexto em que vivemos, dilacerado por contrastes sociais e sem visão comum. “Neste momento é urgente pensar nessas dificuldades para assumi-las e trata-las”, completou.

Nesse sentido, o palestrante questionou professores e equipes diretivas sobre qual é a concepção que cada um tem sobre ser humano. “Na realidade, o ser humano é tripartite. Edith Stein lembra que todo o ser humano é incompletude, ou seja, ninguém vem para esse mundo acabado. Precisamos nos construir, em um processo permanente de renovação. Isso é o que torna alguém sociável e educável”, relembrou Dom Leomar, utilizando-se do pensamento da educadora e filósofa judia Edith Stein para elucidar sua explicação.

 

Para que esse modelo de educação seja aplicado, Dom Loemar destaca que é necessário ouvir crianças, adolescentes e jovens. Isso significa que é preciso que o educador esteja atento à realidade de vida de seu aluno. “Como diz o Papa Francisco, a escuta primeireia o diálogo. Isso significa que devemos aprender a ouvir mais a pessoa e colocar-se no lugar do outro. Somente pela escuta se vencem as distâncias e se cria empatia”, lembrou.

O Pacto Educativo Global estabelece, ainda, que é necessário favorecer a participação das meninas e das jovens. “O Papa nos diz: as mulheres têm a mesma dignidade e idênticos direitos que os homens. Todavia, as palavras dizem uma coisa, mas as decisões e a realidade gritam outra.

O orador lembrou outro ponto importante para a aplicabilidade desse processo, e que há tempos é pauta majoritária das instituições de ensino, o qual coloca a família como peça indispensável nesse trabalho. “A educação não se esgota nas salas de aulas de escolas e universidades. Esse é um dever primário, principalmente, da família. Não dá para transferir para a escola o que a família não faz. Isso precisará ser trabalhado junto com as famílias para nos reeducarmos. O Pacto veio nos ajudar nisso”, citou ele.

Não poderia deixar de fazer parte do Pacto Educativo Global a questão do acolhimento ao próximo, especialmente aos mais vulneráveis. “Devemos usar mais a hospitalidade. Quanto mais a gente se aproxima o outro, seja ele socialmente excluído ou moralmente perdido, estamos praticando um ato cristão de uma educação para a paz”, lembrou.

O sexto item do Pacto sugere que a educação, a economia, a política, o crescimento e o progresso, estejam a serviço do ser humano, da família e da ecologia integral. “Compreendendo que o ser humano é uma integralidade, é preciso encontrar outros modos de compreender a economia, a política, o crescimento e o progresso, escreveu o Papa na mensagem de lançamento do Pacto. Os professores podem dizer que isso é uma utopia, que não dará certo, mas o Papa Francisco pensa à frente e já está reunindo jovens economistas para pensar essa nova antropologia e esses novos meios, que prevê um mundo mais solidário, aberto, mas como novos parâmetros”, contou o religioso.


O Papa Francisco refere-se ao Planeta Terra como ‘Nossa Casa Comum’, e nesse sentido o Pacto Educativo Global sugere que cuidemos da nossa casa comum com estilos de vida mais sóbrios, não somente por quaresma ou por dieta, destacou o palestrante. “É preciso termos consciência que esse mundo precisa ser cuidado, que é o jardim onde estamos habitando. Educar para a ‘Casa Comum’ significa adotar um estilo de vida na escola, na casa, na vida do professor, do técnico administrativo, mais coerente com essa educação integral, com essa ecologia integral”, ressaltou.

 

 

Para encerrar sua apresentação, Dom Leomar se utilizou da citação da filósofa Hannah Arendt, a qual dizia que educar é dar protagonismo aos jovens. “É nisso que a gente precisa trabalhar para encontrar novos caminhos capazes, de fato, de nos trazer esse Pacto Educativo Global de forma concreta”, colocou o orador, que em síntese destacou que a educação integral deverá cuidar de todos esses aspectos, de integrar as pessoas, especialmente nesse momento de pandemia. “Se não tivermos abertura a uma educação que trabalhe todas as dimensões, nos dê uma abertura à transcendência, ao mistério, ao eterno, acredito que ainda teremos essa emergência educativa que falava o Bento XVI, lá em 2008”.

Dom Leomar destacou o papel do educador nesse tempo e sua importante missão de preparar a nova geração, que vem com novos paradigmas e novos caminhos, o que torna fundamental a ação de buscar um tempo bem mais humano, fraterno e solidário. “O Cristo prometeu que estará conosco até o final dos tempos. Por isso, concluo dizendo: não tenhamos medo, mesmo da pandemia, da solidão, não tenhamos medo. Alguém está conosco nesta barca. É Cristo. Tenhamos esperança, pois temos certeza que dias melhores virão”, incentivou ele, renovando a esperança nos educadores e demais participantes do Dia Anec 2021.